18.4.09

remoinho

Onde vais?, perguntou-lhe, os pés cobertos de areia molhada, os olhos fixos na água que fazia remoinho na cova que escavara com os dedos.
Ainda não sei, não decidi. Mas que diferença faz, se não podes vir comigo?, respondeu, o nariz enfiado no mapa à sombra do chapéu, o suor a escorrer-lhe pela testa.
Sim, tens razão, mas não me lamento. Apesar de não gostar de aqui estar, habituei-me a isto e por aqui ficarei.
Então, fechou o mapa, tirou o chapéu, limpou o suor, olhou para o sol e sacudiu os pés. Depois deu grandes passadas em direcção às dunas e foi desaparecendo, até que o areal engoliu a última réstia da sua imagem.

Mesmo que o desejasse muito, não iria contigo. O meu coração é demasiado fraco para o teu fôlego, para a força das tuas pernas. Eu fico por aqui. Assim, sem adeus nem despedidas, apenas os olhos fixos na água em remoinho dentro de mim.

© [m.m. botelho]