12.11.07

Oxalá

A maior angústia não é saber-te desse lado do rio. A maior angústia talvez seja saber que queres muito saltar para a minha margem, mas não o fazes. Uma angústia tão grande como as noites que passo sem ti, uma angústia do tamanho da eternidade que não se pode medir porque os nosso braços esticados não chegam.
Já te disse tantas coisas que quase sinto que tudo está gravado no granito há que tempos. Abrir os olhos ao amor é quase tão difícil como abri-los debaixo de água. O sal a corroer-nos, o desconforto, a visão turva. Tudo isso e muito mais faz a nossa inércia. E a dor é infinitamente maior e muito mais pungente.
O amor é, provavelmente, o mais fácil de conseguir. Tudo o resto, o resto de tudo é que é desafiante almejar.
Eu ouso. Oxalá hoje queiras tu também ousar. E, então, o teu colo será habitáculo do repouso da minha cabeça, o teu ventre lençol dos meus beijos e os teus cabelos resguardo dos segredos que te direi baixinho, antes de adormeceres. Oxalá.

© [m.m. botelho]