23.4.08

Tudo é possível.

Eu quis muito amar-te.

[Quis muito aprisionar a noite dentro do meu carro, segurar entre os dedos os minutos que escorriam do meu relógio de pulso, emoldurar o teu rosto iluminado pelos faróis dos carros que passavam. Quis muito desenhar as curvas do teu corpo na lua cheia, contar cada um dos teus cabelos debaixo das árvores, resgatar-te àquele asfalto que os teus ténis calcavam. Quis muito suster a tua respiração no frio, prender o teu grito de gozo nos vidros embaciados, entrar em ti, ser o teu sangue. Quis muito permanecer entre os teus dentes com a forma do meu nome enlaçado no teu.]

É como te digo, eu quis muito amar-te, de todas as formas, as que cabem nas palavras e as que as extravasam, as que ficam presas na barragem do meu coração e as que passam as comportas do meu peito.

[Muito, de todas as formas, mesmo antes de te querer amar.]

Eu quis muito tudo isso e consegui.

[Desde então,]

acredito no que me disseste, que tudo é possível, mesmo o inesperado, mesmo o improvável, mesmo o imprevisto. Eu quis muito e assim foi.

[Quando Setembro chegar, vamos andar de bicicleta a par, mandar vir contra o vento, beber o sol, esvaziar o mar.]

© [m.m. botelho], ao som de Os dias são à noite, dos Madredeus, do álbum O Paraíso [1997]. Aqui na versão do álbum Euforia [2002], ao vivo, com a participação da Flemish Radio Orchestra.



os dias são à noite / e as noites são de dia. / se acordo contigo / a mim abraçado / o sono perdido / não deixa cuidado.
os dias são à noite / e as noites são de dia. / se acordo contigo, / se estou a teu lado, / é doce o caminho / deste meu fado.
os dias são à noite / e as noites são de dia.