5.11.10

óculos de sol

Olhou para o cigarro que segurava entre os dedos. Puxou uma última fumaça. Depois, atirou a beata para o chão e pisou-a, vezes sem conta, com uma imensa força.
Pôs a mochila às costas, o capacete da mota no ombro, o chapéu na cabeça. Apalpou os bolsos do casaco. Esquecera-se dos óculos de sol. Puxou a pala do chapéu para baixo, voltou o olhar para o chão e começou o caminho. «Quem não tem cão, caça com gato», pensou, enquanto deixava um rasto de poeira a cada passada que dava.

Um pouco mais adiante lembrou-se de que, afinal, os óculos não estavam esquecidos; havia-os pousado no selim enquanto fumava.
Não voltou atrás. E, desde esse dia, não tornou a fumar.

© [m.m. botelho]