11.3.07

Os dias do chá

© [m.m. botelho]
© [m.m. botelho] | fotografia | março de 2007

Eu bebi, sem cerimónia, o chá...
um destes dias, deixaste-me a sonhar por ti.

© [m.m. botelho], ao som dos GNR, outra vez. E muitas vezes, muitas vezes, o carro a rodar estrada fora, e eu às pancadinhas no volante a gritar a plenos pulmões que «quero ve-e-er Portugal na CEE». Recordo-me desses dias inconsequentes ao som dos GNR. Aqui e agora a relembrar Ana Lee, do álbum Rock In Rio Douro [1992]. Alguém me disse ainda ontem: «those were the days». Então sonhava com agora; agora o então parece um sonho. Era eu uma «princesinha», num trono de jasmim.

Eu bebi, sem cerimónia, o chá
à sombra uma banheira decorada,
num lago de shampoo.

E dormi, como uma pedra que mata,
senti as nossas vidas separadas,
aquário de ostras cru.

Ana Lee, Ana Lee
meu lótus azul,
ópio do povo,
jaguar perfumado,
tigre de papel.
Ana Lee, Ana Lee
no lótus azul,
nada de novo
poente queimado,
triângulo dourado.

Se ela se põe de «vestidinha»
parece logo uma princesinha
num trono de jasmim.

E ao ver-me, embora em verde tónico,
no país onde fumam as cigarras,
deixei-a a sonhar por mim.

São unhas que gravam
as unhas que cravam
na pele em mim
Ana Lee
são mãos que plantam
são arroz chao chao.