10.7.07

Gostar muito do teu nome

Durante longo tempo, sucedeu apenas que eu gostei muito do teu nome e tu do meu. Nunca soubemos quem éramos, nem tão pouco sabemos quem somos. Não tento sequer imaginar como viremos a ser. Não quero. Para já, só este imenso aguado de distância entre a matéria dos nossos dois corpos. Pouco mais resta do que a certeza de que, ao menos, durante longo tempo, sucedeu apenas que eu gostei muito do teu nome. Hoje gosto muito somente da certeza de que, um dia, tu também gostaste muito do meu. Gosto da certeza de que se eu tiver a certeza ninguém ma poderá tirar. Nem mesmo tu.
Por isso sei, tenho a certeza de que, durante longo tempo, sucedeu apenas que eu gostei muito do teu nome e tu do meu. Depois amei-o, cada letra, cada palavra do teu nome. De vez em quando ainda nascem dias em que dou por mim a gostar muito do teu nome. Noutros, não me vem à memória, simplesmente. Dizem que é costume ser assim, à medida que cada vez mais horas vão sendo contadas.
Quem sabe um dia, entre o teu nome e a minha memória, só outro imenso aguado de distância como este que separa a matéria dos nossos dois corpos. E eu, sem me dar conta, gostarei muito de cada gota desse aguado, a coisa única que ainda me aproximará, embora afastando-me, de ti.

© [m.m. botelho]