© [m.m. botelho] | sem título | maio de 2006
desenho/ilustração a caneta rotring isograph 1.00 mm preta
e lápis caran d'ache prismalo aquarelle vermelho sobre papel
desenho/ilustração a caneta rotring isograph 1.00 mm preta
e lápis caran d'ache prismalo aquarelle vermelho sobre papel
Dama em frente do espelho
[1907-08]
Como especiarias num narcótico,
solta leve no fluente-claro
espelho os gestos cansados;
e põe todo o sorriso lá dentro.
E espera, até que o fluido
cresça; então lança os cabelos
no espelho e, erguendo os ombros
admiráveis do vestido de noite,
bebe em silêncio da sua imagem. Bebe
o que um amante beberia em vertigem,
crítica, desconfiada; e só acena
à criada, quando lá no fundo
do espelho vê luzes, armários
e o baço duma hora tardia.
Rainer Maria Rilke [1875-1926], in Poemas. As Elegias de Duíno. Sonetos a Orfeu, prefácios, selecção e tradução de Paulo Quintela [1905-1987], 5.ª edição, Edições Asa, 2003.
[1907-08]
Como especiarias num narcótico,
solta leve no fluente-claro
espelho os gestos cansados;
e põe todo o sorriso lá dentro.
E espera, até que o fluido
cresça; então lança os cabelos
no espelho e, erguendo os ombros
admiráveis do vestido de noite,
bebe em silêncio da sua imagem. Bebe
o que um amante beberia em vertigem,
crítica, desconfiada; e só acena
à criada, quando lá no fundo
do espelho vê luzes, armários
e o baço duma hora tardia.
Rainer Maria Rilke [1875-1926], in Poemas. As Elegias de Duíno. Sonetos a Orfeu, prefácios, selecção e tradução de Paulo Quintela [1905-1987], 5.ª edição, Edições Asa, 2003.