28.6.06

O recalcitrar dos dias

© [m.m.botelho]
© [m.m.botelho] | tabuleiro de rosas mortas | junho de 2006
desenho a tinta da china preta windsor & newton e aparo sobre papel


Agora que as palavras secaram
e se fez noite
entre nós dois,
agora que ambos sabemos
da irreversabilidade
do tempo perdido,
resta-nos este poema de amor e solidão.
No mais é o recalcitrar dos dias,
perseguindo-nos, impiedosos,
com relógios,
pessoas,
paredes demasiado cinzentas,
todas as coisas inevitavelmente
lógicas.
Que a nossa nem sequer foi uma história
diferente.
A originalidade estava toda na pólvora
dos obuses, no circunstanciado
afivelar
dos sorrisos à nossa volta
e no arcaísmo da viela onde fazíamos amor.


Eduardo Pitta [n.1949] | Marcas de Água | Imprensa Nacional | Lisboa | 1999