12.12.06

Fecha a porta quando saíres.

Já lavei a loiça,
limpei os copos,
os pratos e as panelas ficam a escorrer,
amanhã arrumo-os no armário.
Dobrei as tuas meias,
os pijamas,
as camisas.
Está tudo como tu gostas.
Ia aquecer-te leite no micro-ondas
- aqueci um pouco para mim -
mas depois lembrei-me de que talvez
prefiras chá.
O açúcar está no armário,
no mesmo sítio de sempre.
Hoje voltei a cruzar-me com o engenheiro
no elevador.
Perguntou por ti,
lembrou a conta do condomínio.
Está cada dia mais careca,
o estupor do engenheiro.
Estive a limpar a carpete.
Encheste a carpete de terra
com essas botifarras medonhas.
Gostava tanto que usasses sapatos,
pretos,
de sola e berloques.
Depois de arrumares o que é teu
- leva tudo de uma vez,
não deixes nada para trás -
mete as tralhas no elevador de uma assentada.
Oxalá não te cruzes com o engenheiro,
não vá pedir-te também a ti
que pagues a conta do condomínio.
Fecha a porta quando saíres,
mas deixa a luz acesa,
que quero guardar na memória
a tua imagem
ao ires embora
.

© [m.m. botelho]