© [m.m. botelho] | ilustração | 2006
desenho a caneta rotring isograph 0.2 preta
e lápis caran d'ache prismalo aquarelle sobre papel
desenho a caneta rotring isograph 0.2 preta
e lápis caran d'ache prismalo aquarelle sobre papel
- Diz-me cá! Então quer isso dizer que quando o coração encolhe nos sentimos sufocar, assim como... uma esponja que esprememos entre os dedos até sair toda a água e sabão que usámos para lavar o corpo depois de um dia de algazarra com os amigos?
- Sim, é isso mesmo! Ou como quando trepamos à proa de um navio e nos falta o ar porque abrimos muito a boca para sentir o vento secar a saliva na nossa língua...
- E os dentes ficam a doer por causa do frio!
- Os dentes e os lábios, que ficam adormecidos, como quando beijamos alguém de quem gostamos muito com toda a força, enquanto apertamos os braços em volta do pescoço e dizemos baixinho ao ouvido «apanhei-te»!
- «Apanhei-te»! Como gritámos tantas vezes nas férias grandes, no verão passado, em casa da avó, onde brincámos com os primos...
- A ver quem ficava de castigo a contar até 100 enquanto os outros se escondiam atrás das árvores ou dos arbustos...
- Ou na estufa, ou no poço...
- Ainda te lembras do poço?
- Então não? Quem é que se esquece daquele poço? É tão largo e tão fundo que parece que vamos afogar-nos quando gritamos o nosso nome lá para dentro e não ouvimos barulhinho nenhum de volta...
- Até sentimos as roupas molhadas no corpo só de sentir o nosso nome a alta velocidade a percorrer o túnel húmido de encontro áquela água gélida, sempre gélida que a avó colhe das entranhas da terra com um balde de latão! Brrr...
- Aquele poço parece que nos engole inteiros quando olhamos lá para dentro...
- E sem mastigar, como as anacondas fazem às ratazanas! Blherg...
- Sim, é isso mesmo! Ou como quando trepamos à proa de um navio e nos falta o ar porque abrimos muito a boca para sentir o vento secar a saliva na nossa língua...
- E os dentes ficam a doer por causa do frio!
- Os dentes e os lábios, que ficam adormecidos, como quando beijamos alguém de quem gostamos muito com toda a força, enquanto apertamos os braços em volta do pescoço e dizemos baixinho ao ouvido «apanhei-te»!
- «Apanhei-te»! Como gritámos tantas vezes nas férias grandes, no verão passado, em casa da avó, onde brincámos com os primos...
- A ver quem ficava de castigo a contar até 100 enquanto os outros se escondiam atrás das árvores ou dos arbustos...
- Ou na estufa, ou no poço...
- Ainda te lembras do poço?
- Então não? Quem é que se esquece daquele poço? É tão largo e tão fundo que parece que vamos afogar-nos quando gritamos o nosso nome lá para dentro e não ouvimos barulhinho nenhum de volta...
- Até sentimos as roupas molhadas no corpo só de sentir o nosso nome a alta velocidade a percorrer o túnel húmido de encontro áquela água gélida, sempre gélida que a avó colhe das entranhas da terra com um balde de latão! Brrr...
- Aquele poço parece que nos engole inteiros quando olhamos lá para dentro...
- E sem mastigar, como as anacondas fazem às ratazanas! Blherg...
[...]
- As ratazanas devem sentir-se espremidas e encharcadas ao mesmo tempo, no estômago das anacondas.
- Isso deve doer.
- Muito.
- Imenso!
- Sim! Elas devem gritar, só que não se ouve cá fora porque a pele daquelas cobras é muito grossa!
- E também devem chorar, só que não se vêem as lágrimas porque está tudo escuro lá dentro no estômago.
- Isso deve doer.
- Muito.
- Imenso!
- Sim! Elas devem gritar, só que não se ouve cá fora porque a pele daquelas cobras é muito grossa!
- E também devem chorar, só que não se vêem as lágrimas porque está tudo escuro lá dentro no estômago.
[...]
- As ratazanas, na barriga das anacondas, devem sentir-se sufocar...
- Como nós, quando o coração nos encolhe e fica frio e escuro...
- E então gritamos e choramos...
- Porque dói...
- Que se farta.
© [m.m. botelho], ao som de Quebrámos os Dois, dos Toranja, do álbum Segundo. A letra é do Tiago Bettencourt.
Era eu a convencer-te que gostas de mim / e tu a convenceres-te que não é bem assim... / Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro / e tu a argumentares os teus inevitáveis.
Eras tu a dançares em pleno dia / e eu encostado como quem não vê. / Eras tu a falar para esconder a saudade / e eu a esconder-me do que não se dizia.
... afinal, quebrámos os dois... / ... afinal, quebrámos os dois...
Desviando os olhos por sentir a verdade / juravas a certeza da mentira / mas sem queimar demais / sem querer extinguir o que já se sabia.
Eu fugia do toque como do cheiro / por saber que era o fim da roupa vestida / que inventara no meio do escuro onde estava / por ver o desespero na cor que trazias...
... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois...
Era eu a despir-te do que era pequeno / e tu a puxares-me para um lado mais perto / onde contamos histórias que nos atam / ao silêncio dos lábios que nos mata...!
Eras tu a ficar por não saber partir... / e eu a rezar para que desaparecesses... / Era eu a rezar para que ficasses... / e tu a ficares enquanto saías.
... não nos tocámos enquanto saías. / Não nos tocámos enquanto saímos. / Não nos tocamos e vamos fugindo / porque quebrámos como crianças.
... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois...
...e é quase pecado o que se deixa... / ...quase pecado o que se ignora...
- Como nós, quando o coração nos encolhe e fica frio e escuro...
- E então gritamos e choramos...
- Porque dói...
- Que se farta.
© [m.m. botelho], ao som de Quebrámos os Dois, dos Toranja, do álbum Segundo. A letra é do Tiago Bettencourt.
Era eu a convencer-te que gostas de mim / e tu a convenceres-te que não é bem assim... / Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro / e tu a argumentares os teus inevitáveis.
Eras tu a dançares em pleno dia / e eu encostado como quem não vê. / Eras tu a falar para esconder a saudade / e eu a esconder-me do que não se dizia.
... afinal, quebrámos os dois... / ... afinal, quebrámos os dois...
Desviando os olhos por sentir a verdade / juravas a certeza da mentira / mas sem queimar demais / sem querer extinguir o que já se sabia.
Eu fugia do toque como do cheiro / por saber que era o fim da roupa vestida / que inventara no meio do escuro onde estava / por ver o desespero na cor que trazias...
... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois...
Era eu a despir-te do que era pequeno / e tu a puxares-me para um lado mais perto / onde contamos histórias que nos atam / ao silêncio dos lábios que nos mata...!
Eras tu a ficar por não saber partir... / e eu a rezar para que desaparecesses... / Era eu a rezar para que ficasses... / e tu a ficares enquanto saías.
... não nos tocámos enquanto saías. / Não nos tocámos enquanto saímos. / Não nos tocamos e vamos fugindo / porque quebrámos como crianças.
... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois...
...e é quase pecado o que se deixa... / ...quase pecado o que se ignora...