26.9.07

Causa-efeito

As mãos suadas. As têmporas a latejar. O batimento cardíaco em altos decibéis dentro da cabeça. Os dentes cerrados. A expressão fechada. A respiração contida. Os olhos meio-húmidos. A incapacidade de concentração. O silêncio, o silêncio, o silêncio. O coração aos pulos dentro do peito. O pensamento perdido não sei [ou sei? já nem sei] por onde. A fadiga repentina. A falta de apetite. O sono a teimar não chegar. O corpo às voltas na cama. Uma terrível enxaqueca. O dia à porta outra vez. Slideshow em flash no escuro do meu quarto. Tudo isto, ali, bem diante do nariz. A vida, ali, tão à flor da pele.

Tu. Tu. Tu.
Sempre e outra vez tu.
Tu tão longe e tão por dentro.

© [m.m. botelho], ao som de A culpa é da vontade, um inédito de António Variações, interpretado por Humanos, do álbum homónimo [2004].



a culpa não é do sol / se o meu corpo se queimar / a culpa é da vontade / que eu tenho de te abraçar
a culpa não é da praia / se o meu corpo se ferir / a culpa é da vontade / que eu tenho de te sentir
a culpa é da vontade / que vive dentro de mim / e só morre com a idade / com a idade do meu fim / a culpa é da vontade
a culpa não é do mar / se o meu olhar se perder / a culpa é da vontade / que eu tenho de te ver
a culpa não é do vento / se a minha voz se calar / a culpa é do lamento / que suporta o meu cantar
a culpa é da vontade / que vive dentro de mim / e só morre com a idade / com a idade do meu fim / a culpa é da vontade