31.7.06

Como crianças

© [m.m. botelho]
© [m.m. botelho] | ilustração | 2006
desenho a caneta rotring isograph 0.2 preta
e lápis caran d'ache prismalo aquarelle sobre papel

- Diz-me cá! Então quer isso dizer que quando o coração encolhe nos sentimos sufocar, assim como... uma esponja que esprememos entre os dedos até sair toda a água e sabão que usámos para lavar o corpo depois de um dia de algazarra com os amigos?
- Sim, é isso mesmo! Ou como quando trepamos à proa de um navio e nos falta o ar porque abrimos muito a boca para sentir o vento secar a saliva na nossa língua...
- E os dentes ficam a doer por causa do frio!
- Os dentes e os lábios, que ficam adormecidos, como quando beijamos alguém de quem gostamos muito com toda a força, enquanto apertamos os braços em volta do pescoço e dizemos baixinho ao ouvido «apanhei-te»!
- «Apanhei-te»! Como gritámos tantas vezes nas férias grandes, no verão passado, em casa da avó, onde brincámos com os primos...
- A ver quem ficava de castigo a contar até 100 enquanto os outros se escondiam atrás das árvores ou dos arbustos...
- Ou na estufa, ou no poço...
- Ainda te lembras do poço?
- Então não? Quem é que se esquece daquele poço? É tão largo e tão fundo que parece que vamos afogar-nos quando gritamos o nosso nome lá para dentro e não ouvimos barulhinho nenhum de volta...
- Até sentimos as roupas molhadas no corpo só de sentir o nosso nome a alta velocidade a percorrer o túnel húmido de encontro áquela água gélida, sempre gélida que a avó colhe das entranhas da terra com um balde de latão! Brrr...
- Aquele poço parece que nos engole inteiros quando olhamos lá para dentro...
- E sem mastigar, como as anacondas fazem às ratazanas! Blherg...

[...]

- As ratazanas devem sentir-se espremidas e encharcadas ao mesmo tempo, no estômago das anacondas.
- Isso deve doer.
- Muito.
- Imenso!
- Sim! Elas devem gritar, só que não se ouve cá fora porque a pele daquelas cobras é muito grossa!
- E também devem chorar, só que não se vêem as lágrimas porque está tudo escuro lá dentro no estômago.

[...]

- As ratazanas, na barriga das anacondas, devem sentir-se sufocar...
- Como nós, quando o coração nos encolhe e fica frio e escuro...
- E então gritamos e choramos...
- Porque dói...
- Que se farta.

© [m.m. botelho], ao som de Quebrámos os Dois, dos Toranja, do álbum Segundo. A letra é do Tiago Bettencourt.



Era eu a convencer-te que gostas de mim / e tu a convenceres-te que não é bem assim... / Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro / e tu a argumentares os teus inevitáveis.
Eras tu a dançares em pleno dia / e eu encostado como quem não vê. / Eras tu a falar para esconder a saudade / e eu a esconder-me do que não se dizia.
... afinal, quebrámos os dois... / ... afinal, quebrámos os dois...
Desviando os olhos por sentir a verdade / juravas a certeza da mentira / mas sem queimar demais / sem querer extinguir o que já se sabia.
Eu fugia do toque como do cheiro / por saber que era o fim da roupa vestida / que inventara no meio do escuro onde estava / por ver o desespero na cor que trazias...
... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois...
Era eu a despir-te do que era pequeno / e tu a puxares-me para um lado mais perto / onde contamos histórias que nos atam / ao silêncio dos lábios que nos mata...!
Eras tu a ficar por não saber partir... / e eu a rezar para que desaparecesses... / Era eu a rezar para que ficasses... / e tu a ficares enquanto saías.
... não nos tocámos enquanto saías. / Não nos tocámos enquanto saímos. / Não nos tocamos e vamos fugindo / porque quebrámos como crianças.
... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois... / ... afinal quebrámos os dois...
...e é quase pecado o que se deixa... / ...quase pecado o que se ignora...

28.7.06

Capítulo V

© [m.m. botelho]
© [m.m. botelho] | fotografia | julho de 2006


Nasci numa manhã de Abril. Não fazia frio nem calor. Nem sol, nem chuva. Não foi um dia ventoso nem abafado.
- Era Abril, que mais queres que te diga? – esquivava-se o meu Pai, sempre que eu lhe pedia que me descrevesse o dia em que nasci.
Fui criada pela Mariana e por ele. A minha Mãe foi sempre uma presença ausente. Penso até que nunca conseguiu ultrapassar o facto de ter interrompido uma aula para me dar à luz. Detestava que lhe interrompessem as aulas. Chegava a expulsar os alunos se lhe faziam perguntas em ocasiões que considerava despropositadas.
- Não suporto pessoas impertinentes! – esconjurava frequentemente.
O meu Pai costumava dizer que a minha Mãe tinha o melhor e o pior dos grandes artistas: «era boa e sabia disso». Na verdade, qualquer projecto ao qual o seu nome estivesse associado era um sucesso garantido. Eu mesma assisti a algumas ovações à minha mãe enquanto encenadora, nas raras vezes em que o meu Pai tinha tempo para ir comigo aos espectáculos, pois só pela mão dele eu entrava num teatro. A minha Mãe ralhava e dizia que não podia ter meninas agarradas às saias dela no teatro, que tinha de se movimentar, que tinha uma companhia e muitos subsídios, muitas carreiras, muitos espectáculos dependentes dela. Não podia, por isso, desperdiçar o seu preciosíssimo tempo com meninas agarradas às suas saias, ainda que se tratasse da própria filha.
O meu Pai fingia não ouvir o que ela dizia, mas não podia tapar-me os ouvidos, apesar de, sempre que a minha Mãe zurzia coisas do género, a mandar calar e lhe pedir que não dissesse aquelas coisas ao pé de mim, ao que ela, evidentemente, não obedecia. A minha Mãe era uma "diva". Teve o público aos pés durante os melhores anos da sua vida, como fazia questão de frisar a cada passo, para que ao meu Pai não restassem dúvidas de que o casamento para ela nunca fora sinónimo de felicidade.
A minha Mãe teve o condão de sempre me fazer sentir um fardo na sua vida. No fundo, apenas fazia questão de reiterar diariamente o que havia dito ao meu Pai quando ele lhe sugeriu a minha concepção. E por muito que eu tenha pedido a ambos a dádiva de um irmão, ele nunca nasceu. O meu Pai ainda hoje continua a dizer que «foi porque Deus não quis», porque «contra Deus não há vontade». Agora que penso mais detidamente sobre isso, dou graças por ele nunca ter nascido. Para ter de provar da rejeição materna que eu provei, foi certamente melhor que não tenha vindo ao mundo. Se bem que, não tendo ganho uma Mãe alheada, perdeu um Pai excepcional.
- É um avô, é o que é. Por isso acha graça a tudo o que a criancinha faz. Tem o coração derretido, num melaço de meter dó! – criticou a minha Mãe, quando ouviu o meu Pai aplaudir excessivamente as minhas interpretações pavorosas ao violoncelo dos primeiros exercícios que estudei. E, de facto, o meu Pai tinha mesmo de ter o coração derretido para ser capaz de suportar o que a minha Mãe lhe fazia. Corriam boatos de que a "diva", como a Mariana lhe chamava pejorativamente, não dava lições aos alunos apenas no teatro, mas também na cama. Se era verdade ou não, nunca o soube, pois o meu Pai nunca me falou disso e a Mariana fecha-se em copas sempre que tento abordar o assunto.
- Até à morte do seu Avô, a Mãezinha da menina ainda era suportável. Depois disso, passou a ignorar completamente o seu Paizinho. E ele não merecia isso, não senhor. Não merecia. – contou-me a Mariana na conversa mais longa que já tivemos, na noite em que decidi sair de casa sem nada dizer ao meu Pai, na tentativa de lhe evitar a dor da despedida, que apenas consegui adiar.
Os meus pais haveriam de se separar quando eu ainda andava no colégio. O meu Pai comprou um palacete enorme, com um grande pátio recheado de árvores frondosas, no qual a "diva" passou a viver. Ali leccionava, recebia artistas, organizava tertúlias e dava jantares aborrecidíssimos para os quais eu passei a ser convidada desde que ganhei o meu primeiro prémio de interpretação, aos doze anos. A partir de então, a minha Mãe passou a exibir-me como um troféu, como mais uma distinção entre as tantas que tinha espalhadas pelas paredes. Comprava-me os vestidos, as meias e os sapatos e ordenava ao motorista que fosse buscar-me a casa do meu Pai, que se despedia de mim com um beijo embebido em meiguice e lágrimas. Apenas ele e a Mariana se davam conta do meu sofrimento porque, à porta do quarto, me ouviam chorar baixinho enquanto me aperaltava naqueles vestidinhos pavorosos, incredulamente ainda menos estéticos quando eu alojava o violoncelo entre as pernas, qual animal amestrado do circo, que representa o número mas não recolhe os aplausos, pois esses vão para o domador, no meu caso, a minha querida Mãe, que até as peças que eu haveria de tocar se encarregava de escolher...
Penso que a única vez que a minha Mãe me deu um beijo sincero foi na noite em que, ao jantar, disse timidamente que queria ser violoncelista. O meu Pai engasgou-se, tossicou bastas vezes e pediu-me por favor que repetisse, que com certeza não ouvira bem. Sem erguer os olhos da toalha muito branca e muito engomada, respirei fundo, engoli em seco e cuspi intrepidamente:
- Quero ser violoncelista.
O meu Pai pousou então o guardanapo, ergueu-se da cadeira e caminhou até mim em passos lentos. A cada centímetro que se aproximava, a sua figura agigantava-se, desmesuradamente, perante a minha agora tiritante pequenez.
- Minha filha, tens a certeza do que nos estás a dizer?
Fitei a minha Mãe, que havia pousado os talheres e o guardanapo e ajeitava agora os óculos no nariz, voltada para mim, na expectativa da minha resposta.
- Então? – perguntou ela, atravessando-me o peito com o olhar.
- Sim, decidi que quero ser violoncelista. Tenho a certeza.
A minha Mãe logo ali soltou uma estrondosa gargalhada, levantou-se da cadeira, caminhou até mim e deu-me um beijo rápido na testa. Depois disse com voz seca:
- Estou muito orgulhosa de ti. – e saiu da sala, lançando sorrisos altivos ao marido, com o ar triunfante dos generais romanos percorrendo a Via Appia.
O meu Pai, desolado, acenava negativamente com a cabeça. Sem saber que o fazia, naquela noite destruí-lhe um sonho. Eu, sua única filha, tinha por seu desejo sobre os ombros a singular tarefa de dar continuidade a quatro gerações de médicos. No entanto, decidira ser artista, como a minha Mãe. O meu desolado Pai acabava de ser derrotado pela sua maior aliada, eu, numa luta que desde o meu nascimento travara com a sua maior opositora, a minha Mãe.
- Ao menos, que siga a vida artística, que não seja uma apagada, como a Mariana e como a maioria das outras mulheres. Que deixe uma marca da sua passagem neste país, neste mundo! - alvitrou ela, poucas horas depois de eu nascer.
- Que ideia! A menina vai para Coimbra estudar Medicina. Como eu fiz. Como o seu Avô fez. Como o seu Bisavô fez. E o meu Avô fez antes dele.
- A ver vamos, Joaquim... A ver vamos... – rematou ela, na esperança de sair vitoriosa da querela que então começava entre si e o meu Pai.
O meu Pai, naquele instante em que me ouviu dizer «quero ser violoncelista», vaticinou que eu, por ter escolhido tal profissão, acabava de encarnar tudo o que ele mais detestava na minha Mãe. Pensou que também eu, no futuro, não quereria ter filhos por não poder tocar violoncelo com a barriga grande, ou para que os fedelhos não me interrompessem as aulas, ou que, mesmo que os tivesse, nunca os levaria aos meus concertos porque não quereria meninos agarrados às minhas saias. Pobre Pai! Volvidos tantos anos ainda recordo bem a aflição que lhe percorria o olhar. Mesmo sem saber o que lhe passava pela cabeça, afaguei-lhe ternamente os cabelos e disse-lhe:
- Papá, não se preocupe. Não vou ser uma "diva". Vou só ser violoncelista.
E ele, com os olhos marejados de lágrimas, abraçou-me e, apertando-me com força contra o seu peito, murmurou:
- Sim, meu bebé. Se tiveres de ser, serás. Contra Deus não há vontade...

© [m.m. botelho], em nova incursão ao baú das inutilidades.

27.7.06

Capítulo IV

© [m.m. botelho]
© [m.m. botelho] | fotografia | casa da música | porto | abril de 2006


Pousei o telefone com uma imensa amargura a estraçalhar-me o peito. Sinto que os dias do meu Pai voam a uma velocidade superior às suas forças.
O meu Pai é médico. Pneumologista. Descende, aliás, de uma família de médicos. O meu Avô era cardiologista e o meu Bisavô psiquiatra. Mas nem por isso somos uma família muito saudável...
O meu Pai casou duas vezes. A primeira mulher faleceu ao dar à luz dois gémeos, dois rapazes. O primeiro bebé nasceu com algumas dificuldades respiratórias, mas conseguiram trazê-lo ao mundo com relativa facilidade. O segundo teimou em não querer deixar o aconchegante ventre da mãe. Tiveram de forçar o parto com o auxílio de instrumentos e, duas horas de angústia depois, nasceu morto. Logo em seguida, a Mãe entrou em coma. O primeiro bebé morreu nesse mesmo dia, disse a parteira que por o gémeo ter nascido morto.
- Que estes bebés são assim, quando um está doente, o outro sente, quanto mais quando um morre!
Mas a dor do meu Pai, que havia começado naquelas duas horas de angústia, havia de aumentar três dias depois, com a morte da mulher.
No dia seguinte à morte da Helena - assim se chamava a primeira mulher do meu Pai - ele despediu todos os empregados da casa. Deixou de comer, raramente saía à rua, deixou de atender pacientes e os músculos entorpeceram-lhe. Não atendia telefonemas, não lia a correspondência, não queria saber de nada do que se passava no mundo. Só tinha forças para chorar, chorar muito. E chorava tanto que ficou com dois sulcos no nariz, onde se alojavam as lágrimas que ele não limpava, porque não tinha forças para erguer o lenço até ao rosto.
Permaneceu neste estado de letargia tanto tempo que não o conseguiu contabilizar. Quando o meu Avô tomou conhecimento do que sucedera, tratou de encaminhar os pacientes para outros médicos e foi ter com o meu Pai. Quando o encontrou, com os olhos esbugalhados e a barba crescida, o cabelo desalinhado, as calças coçadas de tanto baloiçar para a frente e para trás num cadeirão pesado que ele próprio arrastara até à janela do escritório, não reconheceu o filho.
- Porque choras, meu filho? – tentou articular o meu Avô, ajoelhado aos pés de meu Pai, comovido mas contido.
- Choro pela alegria. – respondeu, a quem não se ouvia sequer um fio de voz desde os trágicos acontecimentos.
- De alegria? - espantou-se o meu Avô.
- Não, Pai. Pela alegria.
- Mas "pela alegria"?... Como é isso?
- Choro pela alegria com que quis encher as paredes e os corredores desta casa, Pai. Pela alegria com que quis encher a minha vida. Choro por essa alegria. Porque ela partiu. E não vai voltar. Percebe?
O meu pobre Avô, sessenta e seis anos vividos, estupefacto, não sabia o que responder. Ergueu-se, caminhou em passos silenciosos até ao corredor. Havia muito a fazer.
Os dias seguintes, passou-os o meu Avô entre roupa branca, a sala de engomar, o fogão e a pia da loiça. O meu Pai, só, após ter despedido todos os que lhe lembravam a sua condição humana, vivia então num "caos doméstico indescritível", nas palavras do meu Avó. Não havia um prato limpo, uma camisa engomada, um copo onde o Doutor António - assim se chamava o Avô - pudesse preparar a sua mistela diária indispensável, cujo aroma intenso tão bem recordo: conhaque e algumas gotas de limão.
Para o meu Avô, a escolha pela cardiologia não fora difícil, antes óbvia. Para ele, só fazia sentido ser médico se fosse para exercer cardiologia. E isto porque, a seu ver, a cura de todos os males residia "num bom conhaque, temperado de algumas gotas de limão". Excepto quanto aos males de coração. Esses, para o meu Avô, não tinham cura.
- Assim, já vês, – sentenciou numa das suas inúmeras tentativas de convencimento a que lhe seguisse os passos – a cardiologia é um excelente negócio. Se os males do coração não têm cura, temos doentes eternamente garantidos!
E eu, neta fascinada pelo Avô Doutor, assentia com a cabeça, sentindo-me especial por ele partilhar comigo, e só comigo, o segredo da sua profissão.
Cerca de oito semanas mais tarde, após várias tentativas infrutíferas para devolver o meu Pai à vida, o meu Avô, farto do sabor a sabão que invadia o seu conhaque, da ruína dos seus colarinhos em quilos de goma, esfomeado e carente de atenção, decide tomar as rédeas da vida do seu filho.
A manhã estava péssima, sem uma brecha de sol, um arrulhar de rola, uma aberta na chuva grossa. Após a rejeição inevitável de uma chávena de borras com pretensão a café, restava a leitura o jornal diário da região, cuja entrega custaria ao ardina três dias de cama e, provavelmente, algumas doses de conhaque com limão. O meu Avô, impaciente, tentava ler, mas as letras, algo ensopadas da chuva, exigiam-lhe a maçada de empurrar os óculos que, a cada dez segundos, lhe escorregavam pelo nariz demasiado aquilino. Num movimento brusco, ergueu-se da poltrona e correu para o telefone. Cinco minutos depois, ditava ao repórter:

Precisa-se: governanta interna.
Requisitos: eficiência, educação e discrição.
Para pessoa só.
Boa remuneração.

Passadas as chuvas, apareceram duas candidatas. No dia seguinte, sete. As duas primeiras, depois da entrevista, haviam passado palavra às outras referindo que o serviço era em casa de meu Pai, o que era sinónimo de bom salário e pouco trabalho. Entre as nove mulheres educadas e eficientes, tal como o anúncio exigia, uma sobressaiu aos olhos do meu Avô pela sua docilidade. Tinha vinte e seis anos de inexperiência disfarçada de temperança e chamava-se Mariana.
Seguindo as instruções do meu Avô, a Mariana tomou conta dos destinos da casa. Preparava as refeições para o meu Pai, engomava-lhe a roupa e o jornal, atendia os telefonemas. Contratou dois empregados: um para tratar do jardim, orgulho do meu Pai na felicidade do passado; e outro que tinha como função fazê-lo entrar no carro nem que fosse à força e levá-lo a passear: a ver paisagens belas, de início; a acontecimentos sociais, depois.
Chamava-se José. Foi o Sr. José que muitas vezes me foi levar e buscar ao colégio. E à natação. E às aulas de música. Lembro-me muito bem do Sr. José. Era um senhor simpático, daqueles para quem olhamos e vemos a palavra motorista estampada no rosto, um homem que se confundia com a profissão. Vestia sempre fato azul-escuro. Os sapatos, sempre polidos, brilhavam, que lá nisso a Mariana é intransigente (recordo-me como chegava até a ser aborrecida, sempre a sacudir-me o vestido e a puxar-me as saias para baixo, antes de eu entrar no carro).
A Mariana sempre usou o mesmo penteado. Pelo menos, desde que eu a conheço. Faz duas tranças longas - tão longas que não lhes vemos as pontas - que enrola nas têmporas. E só vemos tranças, tranças, tranças. Enroladas sobre si mesmas, sem princípio nem fim. É muito bonita, a Mariana. Tem a pele muito branca. E macia. E cheira sempre a alfazema.
O meu Avô contou-me um dia que a pedira em casamento, mas que a Mariana não aceitou.
- Respondeu-me que não era o destino dela, que quase poderia ser minha neta! – gaguejava o meu Avô, já muito velho. E era capaz de ter razão, já que a diferença de idades entre a Mariana e o meu Pai é de quase vinte anos. O meu Avô ficou destroçado, claro, mas compreendeu a Mariana. Disse-lhe que ela tinha olhos de criança e que era assim que deveriam permanecer para sempre, com o brilho dos olhos das crianças.
- Claro está que se casasse comigo não poderia ter aqueles olhos meigos, senão, todos os homens se apaixonariam por ela e eu ficaria muito enciumado!
- Assim como o Avô se apaixonou? – perguntava-lhe eu, com ar de quem está sedenta de respostas.
- Sim, como eu me apaixonei. E tu, minha menina, também tens meiguice nos olhos. Hás-de ter legiões de pretendentes atrás de ti!
Enganou-se, Avô. Mas já não vou a tempo de lho dizer.

Num dos muitos passeios que o meu Avô planeou para o meu Pai, o Sr. José deixou-o à porta de um teatro. O meu Pai, que já havia ido ao teatro duas ou três vezes desde que a Mariana e o Avô haviam tomado conta do seu fado, começava a habituar-se ao reboliço das noites culturais. E começava a apreciar novamente essas horas de deleite, de encantamento, em que se deixava levar pelas personagens em palco, pelas histórias criadas "para entreter mentes ociosas", como dizia o Avô.
Nessa noite estava em cena A Dama das Camélias. O programa encantou o meu Pai. Também ele, nos seus tempos de estudante em Coimbra, interpretara a personagem de Armando Duval numa representação tertuliana, só para amigos. Durante toda a peça - viria a confessar-me anos mais tarde - não conseguiu tirar os olhos da actriz que encarnava Margarida Gauthier.
Na noite seguinte, muito surpreendido ficou o Sr. José quando o meu Pai lhe mandou preparar o carro. A Mariana, de ouvido sempre alerta, ficou tão desconfiada que não resistiu a telefonar ao meu Avô.
- Senhor Doutor, o Doutor Joaquim mandou preparar o carro. Mas, hoje ele não iria, supostamente, começar a reorganizar as fichas dos pacientes?
- Ó Diabo! Que me diz, Mariana? Que o Joaquim vai sair por vontade própria?...
Quando a Mariana me contou isto, não pude deixar de imaginar o Avô a cofiar pensativa e sobressaltadamente as barbas e um sorriso maldoso a escorrer-lhe da boca...
O motivo de tanto espanto era o facto de o meu Pai pretender assistir novamente à representação. No final, rumou aos camarins com uma rosa vermelha que havia furtado da entrada. Procurou a actriz principal.
- A Luísa? É o último camarim do lado direito. - alguém o informou.
Um ano depois, as fichas dos doentes estavam organizadas, o Avô deixara de telefonar para os teatros a reservar bilhetes para o meu Pai, o jardim voltara a ser inspeccionado todos os domingos e a voz colocada do Doutor Joaquim já se ouvia pela casa a cantarolar árias líricas para tenor. O casamento devolvera-lhe a jovialidade de outros tempos.
- Quero ter um filho. – disse ele com ar sério um dia, alguns anos mais tarde, à minha mãe.
- Um filho? Mas tu não disseste que não querias ter mais filhos? Que não querias passar novamente pela amargura que já viveste?
- Eu sei muito bem o que disse. E também sei muito bem o que estou a dizer. Quero ter um filho. Contigo. Uma criança, aqui, a brincar pela casa.
- Ah sim? E quem lhe mudará as fraldas e dará o leite? Acaso pensas sobrecarregar a Mariana com mais esse fardo?
- Um filho não é um fardo! E, além disso, posso muito bem mudar-lhe as fraldas.
- Joaquim... Sê razoável. Tens quarenta e sete anos. Eu, trinta e oito. Como iremos ter um filho com esta idade? Teremos um neto, quanto muito!
- Não importa a idade. Quero ter um filho. Quero sentir-me vivo de novo. Quero perpetuar o nosso amor numa criança. Quero, e pronto!
O desejo do meu Pai viria a trazer-lhe vários dissabores com a minha Mãe, que deixara de representar há já algum tempo e que desde que casara o vinha fazendo progressivamente com menos regularidade. Mas a grande Luísa não se afastara totalmente do teatro, nem podia: continuava a dar workshops e masterclasses e, em paralelo, encenava peças que eram sempre um sucesso antecipado na pena dos críticos.
- Como vou fazê-lo com um barriga enorme, não me dizes?
E, a par destas palavras, o meu Pai ouvia uma voz interior que lhe segredava "se ela não quiser, nada feito". "Mas" - atalhava ele rapidamente sempre que esta história era contada - "contra Deus não há vontade", e a minha Mãe engravidou, mesmo sem querer.
Sou fruto de uma gravidez plácida, sem atribulações. A minha Mãe, mesmo contra vontade expressa dos meus Avô e Pai, continuou a sua actividade extenuante até eu clamar um pouco da sua atenção, numa manhã risonha de Abril.
- Mesmo a meio de uma aula! Que vergonha! – costumava dizer, aborrecida, sempre que fazia referência ao facto. E eu e o meu Pai ríamos, apontando para ela e fazendo-lhe caretas.
O meu Pai fez questão de assistir ao parto, mas nunca mudou uma única fralda. Sempre que a minha Mãe tentava ensinar-lhe a tratar de mim, arranjava algo para fazer, fosse no jardim, no consultório ou em qualquer lado.
- Eu já sabia que isto ia ser assim! Prometem, prometem, mas nunca cumprem! – rabujava ela, enquanto ele lhe acenava com o maço de cigarros na mão, pondo o chapéu e batendo a porta.
O meu Pai fuma desde os dezoito anos. Ou melhor, fumava.
- Vícios coimbrões. – costumava dizer para se desculpar, sempre que, a contragosto da minha Mãe e da Mariana, acendia mais um cigarro. Ambas detestavam o cheiro que ficava na casa, das roupas aos cortinados, das toalhas aos papéis. Embora fumasse desmesuradamente, ele nunca o fazia na minha presença.
- Tens-lhe mais amor do que a mim, é o que é. – era a convicção da minha Mãe, à qual o meu Pai não dava resposta, certo de que a verdade da confirmação das suas suspeitas a magoaria.
Há cerca de um ano que o meu Pai não fuma, desde que lhe foi diagnosticado cancro no pulmão.
- Ironias do destino. – diz o pneumologista conformado.
- "Bem prega Frei Tomás! Ouvi o que ele diz, não olheis ao que ele faz!" – riposta-lhe a Mariana, invariavelmente, na tentativa de o provocar.
Mas o meu Pai não responde. Sabe bem que de nada lhe adiantaria. Sente-se todos os dias a morrer um pouco às mãos de um mal contra o qual lutou toda a vida, ainda que não com o seu próprio corpo. Passaram-lhe pelas mãos alguns pacientes que vieram a ser ceifados pelo cancro no pulmão mas ele, sempre dizendo que "contra Deus não há vontade", nunca pensou ter de sentir as dores que os doentes lhe descreviam, ter de tomar os medicamentos que prescrevia, ter de se poupar aos esforços como recomendava. Desde há onze meses que houve um eco da sua voz a falar com ele mesmo. Desde há onze meses que se sente um verdadeiro idiota por não ter praticado o que apregoava. Desde há onze meses que não pára de tentar convencer-me de que tenho de deixar de fumar.
- Não consigo deixar de pensar que foi devido ao meu mau exemplo que começaste a fumar... - lamenta-se.
- Ó Pai, não diga disparates. O Pai nem sequer fumava ao pé de mim, recorda-se? Olhe, lembra-se dos seus vícios coimbrões? Pois bem, no meu caso são vícios urbanos. E não pense mais nisso, está bem?
Ele ergue as mãos e deixa-as cair num gesto de quem desiste, mas não desiste. Sempre que tem oportunidade pergunta-me se já deixei de fumar. Como há pouco, ao telefone.

© [m.m. botelho]

(Re)Encontrado numa incursão ao baú das minhas inutilidades, este texto corresponde ao capítulo IV de um projecto iniciado em 2000 e suspenso há alguns anos. Foi escrito noite dentro, em Coimbra, ao som do álbum Paraíso, dos Madredeus. Da canção A Tempestade, com letra de Carlos Maria Trindade, retirei a expressão «contra Deus não há vontade», que atribuí à personagem Joaquim.

A grande nuvem escura vai-se embora / Dissolve-se a loucura da tormenta / A maré recua agora plana e lenta / As gaivotas largam terra sem demora
Sobrevoam sem ruído o seu rochedo / De tanta vaga e espuma já dormente / Enquanto o sol que brilha novamente / Lá beija a areia toda já sem medo
Fui ver / Fui ver / A tempestade / Vim a correr
Fui ver / Fui ver / A tempestade / Vim-te dizer
Destroços de madeira na corrente / Deixam ver o que em tempos foi uma proa / Pintada de carinho e muitas côres / Ao estilo desta nossa boa gente
Fica o drama dos que esperam na falésia / Por quem Deus já destinou à eternidade / E é lição que contra Deus não há vontade / Fica a fúria calma da grande saudade
Fui ver / Fui ver / A tempestade / Vim a correr
Fui ver / Fui ver / A tempestade / Vim-te dizer

26.7.06

«Filiae Ierusalem, nolite flere super me, sed super vos ipsas flete et super filios vestros.»

© [m.m. botelho]
© [m.m. botelho] | sem título | 2006
esquisso a grafite sobre papel

Sobre ti derramo o lenimento justo
que o talante humano belicamente cego te nega.

Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. Jesus voltou-se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos; pois virão dias em que se dirá: 'Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram.' Hão-de, então, dizer aos montes: 'Caí sobre nós!' E às colinas: 'Cobri-nos!' Porque, se tratam assim a árvore verde, o que não acontecerá à seca?».

Evangelho Segundo São Lucas, 23, 27-31

À memória das vítimas do conflito armado emergente entre Israel e o Líbano.

© [m.m. botelho]

25.7.06

Coração morto a tiritar de frio

© [m.m. botelho] | xaile | 2006
desenho a tinta da china winston & newton preta e aparo sobre papel


De quem tem o coração morto, nunca os olhos choram.

in, Victor Hugo, Os Miseráveis, Tomo I, Parte Primeira, Livro Primeiro, Cap. VII (O Âmago da Desesperação), Publicações Europa-América, 2.ª ed., Mem Martins, 1999

acerca do desenho que acompanha esta citação: xaile | do persa xal | substantivo masculino | espécie de manto com que as mulheres cobrem e agasalham os ombros e o tronco

© [m.m. botelho], a tiritar de frio em pleno estio, ao som de Porcelain, do multifacetado Moby, do álbum Play [1999].

In my dreams I'm dying all the time / As I wake its kaleidoscopic mind / I never meant to hurt you / I never meant to lie / So this is goodbye / This is goodbye
Tell the truth you never wanted me / Tell me
In my dreams I'm jealous all the time / As I wake I'm going out of my mind / Going out of my mind

18.7.06

As flores que colho para ti

© [m.m. botelho]
© [m.m. botelho] | mulher de negro | 2006
desenho a grafite e tinta da china windsor & newton preta sobre papel


Há algo de uma efemérida morte
nestas flores que colho para ti,
uma qualquer chuva que as humedece,
num silêncio quieto de cemitério
lacerado de um sorriso sagrado.

As flores que colho para ti,
em todos os cantos de desejo,
surdem da aragem
do murchar de arrependimento
e do brado do ocaso
da tua efígie.

Sou mendiga da consolação
da brancura esclerótica do teu olhar
dividido na forma romântica de um soneto
sumido.

© [m.m. botelho], ao som de Dos Gardenias, de Isolina Carrillo, interpretada pelos Buena Vista Social Club [Compay Segundo,Ry Cooder, Ibrahim Ferrer, Ruben Gonzalez e Eliades Ochoa], do álbum Buena Vista Social Club [1997].

Dos gardenias para ti / Con ellas quiero decir / Te quiero, te adoro, mi vida / Ponles toda tu atención / Porque son tu corazón y el mío.
Dos gardenias para ti / Que tendrán todo el calor de un beso / De esos besos que te di / Y que jamás encontrarás / En el calor de otro querer.
A tu lado vivirán y se hablarán / Como cuando estás conmigo / Y hasta creerás que te dirán / Te quiero.
Pero si un atardecer / Las gardenias de mi amor se mueren / Es porque han adivinado / Que tu amor me ha traicionado / Porque existe otro querer.

15.7.06

«O Boi Esfolado»

Rembrandt Harmensz van Rijn [1606-1669] | O Boi Esfolado | 1655
Rembrandt Harmensz van Rijn [1606-1669] | O Boi Esfolado | 1655
Musée National du Louvre | Paris | França

Há algo de profundamente perturbador nesta pintura. A massa gordurosa de O Boi Esfolado parece encher a tela à maneira de uma natureza-morta com uma certa atracção estética. Isto é, na realidade, uma característica crescente nos últimos trabalhos de Rembrandt. O assunto, mesmo no retrato de pintura de história, é tratado com um trabalho de pincel de vigor quase brutal e subvertido ao ponto de libertar o brilho da cor subjacente – especialmente o vermelho – ou então, como aqui, o pintor opta por retratar um assunto que tem inerentemente o mesmo efeito subversivo, tão luminoso como a melhor natureza-morta. Este exemplo particular também ilustra o papel desempenhado pela cor acastanhada do fundo no trabalho de Rembrandt. Não há nada colorido neste fundo castanho, e no entanto ele parece abrigar-se na sua profundeza como uma luminosidade e coloração inerente que pode avançar a qualquer momento.

in, Obras-Primas da Pintura Ocidental, vol. I | organização de Ingo F. Walther | tradução de Teresa Curvelo | Taschen | 2005 | p. 315



A propósito dos 400 anos do nascimento de Rembrandt Harmensz van Rijn [1606-1669], que se cumpriram hoje.

11.7.06

In memoriam


In Paradisum deducant te Angeli;
in tuo adventu suscipiant te Martyres,
et perducant te in civitatem sanctam Jerusalem.
Chorus Angelorum te suscipiat,
et cum Lazaro quondam paupere,
aeternam habeas requiem.


Levem-te os Anjos ao Paraíso;
à tua chegada acolham-te os mártires,
e te conduzam à cidade santa de Jerusalém.
Receba-te o coro dos anjos,
e que tenhas um descanso eterno
como o pobre Lázaro de outrora.

In memoriam [j.f. botelho], meu avô materno, nascido em 27 de junho de 1930 e falecido em 11 de julho de 2006.

Ouve-se, no Viagens Interditas, Les Trois Leçons de Ténèbres pour le mercredy, de François Couperin [1668-1733], interpretada por Rolf Lislevand, Jordi Savall, Montserrat Figueras, Maria Cristina Kiehr e Pierre Hantaï, do álbum Tous Les Matins du Monde [2002].

8.7.06

Peregrinação

© [m.m. botelho]
© [m.m. botelho] | fotografia | cais de v.n. gaia | outubro de 2004

Vinte um anos que duraram os meus infortúnios em que por vários acidentes de trabalho que me sucediam, atravessei muita parte da Ásia, como nesta viagem se pode muito bem ver, vivi entre abundância e a miséria, entre vencedores e vencidos, sempre cuidando no regresso onde todas as minhas mágoas seriam consoladas.

Fernão Mendes Pinto [1509-1583] | Peregrinação | Relógio d'Água | 2001

6.7.06

Lentas expirações

© [m.m. botelho]
© [m.m. botelho] | looking back | a partir de ilustração anónima | julho de 2006
desenho a lápis de carvão derwent drawing ivory black e aguarela sobre papel

Guardei o teu coração num armário,
o teu nome num papel,
a tua luz na algibeira.
Quando a noite cai
embrulho-me no cobertor
das tuas carícias
e deixo os minutos
escorrerem
compassadamente
em cada um dos degraus desta casa
vazia.

Não suporto o cheiro dos outros,
nem os odores das ruas povoadas,
onde os amantes se entreolham
sem trocarem
palavras.

Visitas-me em todas as minhas lentas expirações
e, sem que o saibas,
o teu nome jorra em sangue,
teu coração bate naquela caixa,
a tua luz invade-me as pálpebras.

Não me conformo com a tua ausência,
com esta ausência de mim
no grito de todas as esquinas.

© [m.m. botelho], ao som de Samba, do pianista/compositor Ludovico Einaudi, do ábum I Giorni [2004].

Serenata

Vincent Van Gogh [1853-1890] | Ciprestes | [1889]
Vincent Van Gogh [1853-1890] | Ciprestes | 1889
Museu Van Gogh | Amesterdão | Holanda

Dize-me tu, montanha dura,
onde nenhum rebanho pasce,
de que lado na terra escura
brilha o nácar de sua face.

Dize-me tu, palmeira fina,
onde nenhum pássaro canta,
em que caverna submarina
seu silêncio em corais descansa.

Dize-me tu, ó céu deserto,
dize-me tu se é muito tarde,
se a vida é longe e a dor é perto
e tudo é feito de acabar-se!


Cecília Meireles [1901-1964] | Antologia Poética | Relógio d'Água | 2002 | p. 110

5.7.06

Letargia

Leonardo da Vinci [1452-1519] | estudo de braços e mãos | c. 1474
Leonardo da Vinci [1452-1519] | estudo de braços e mãos | c. 1474
Royal Collection | Royal Library | Palácio de Windsor | Londres | Reino Unido

Quando voltarás?,
pergunta-me cada poro desta pele que os teus beijos namoraram...

© [m.m. botelho]

3.7.06

Partida

© [m.m. botelho]
© [m.m. botelho] | partida | julho de 2006
desenho a sanguíneo faber-castell pitt oil base sobre papel

Deixei-me retalhar pelo nosso amor.
A tua partida é sangue jorrando a manchar todos os lugares.

© [m.m. botelho], ao som de Um Año de Amor, na voz de Luz Casal, do álbum Best Of Luz Casal [2005].

Lo nuestro se acabó / y te arrepentirás / de haberle puesto fin / a un año de amor. / Si ahora tu te vas / pronto descubrirás / que los días son eternos / y vacíos sin mí. / Y de noche , y de noche / por no sentirte solo, / recordarás nuestros días felices, / recordarás el sabor de mis besos. / Y entenderás en un sólo momento / que significa un año de amor. / Que significa un año de amor.

Te has parado a pensar / lo que sucederá / todo lo que perdemos / y lo que sufrirás. / Si ahora tu te vas / no recuperarás / los momentos felices / que te hice vivir. / Y de noche , y de noche / por no sentirte solo, / recordarás nuestros días felices, / recordarás el sabor de mis besos. / Y entenderás en un sólo momento / que significa un año de amor. / Y entenderás en un sólo momento / que significa un año de amor.