6.7.06

Lentas expirações

© [m.m. botelho]
© [m.m. botelho] | looking back | a partir de ilustração anónima | julho de 2006
desenho a lápis de carvão derwent drawing ivory black e aguarela sobre papel

Guardei o teu coração num armário,
o teu nome num papel,
a tua luz na algibeira.
Quando a noite cai
embrulho-me no cobertor
das tuas carícias
e deixo os minutos
escorrerem
compassadamente
em cada um dos degraus desta casa
vazia.

Não suporto o cheiro dos outros,
nem os odores das ruas povoadas,
onde os amantes se entreolham
sem trocarem
palavras.

Visitas-me em todas as minhas lentas expirações
e, sem que o saibas,
o teu nome jorra em sangue,
teu coração bate naquela caixa,
a tua luz invade-me as pálpebras.

Não me conformo com a tua ausência,
com esta ausência de mim
no grito de todas as esquinas.

© [m.m. botelho], ao som de Samba, do pianista/compositor Ludovico Einaudi, do ábum I Giorni [2004].