18.9.06

Cinco

O piano, melancólico, embala-me. Confesso que tomei, apenas há instantes, consciência da finitude do Tempo. É fácil aprisionar o tempo em medidas estanques: segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos. Bastam cinco segundos - e o que são, quanto são, como são cinco segundos? - para impregnar toda uma vida de amor.


Espero, inconformada com a demasiado vagarosa passagem do Tempo, o tempo de uma vida. Continuo à espera, sempre à espera. Permaneço imóvel, nas redondezas, apenas a alguns metros - serão quilómetros? - de distância. E tu...
Tu limitas-te, dia após dia, a flutuar sobre o Tempo, sobre mim, sobre o [nosso] amor.


Quanto Tempo é preciso para apagar aqueles cinco segundos? De quanto tempo precisaste para arrancar aqueles cinco segundos - seriam cinco anos? - de ti?

Cinco horas? Cinco dias? Cinco semanas? Cinco meses?

Não sei. Nunca saberei? Não sei, talvez um dia me contes. Cinco anos, a minha vida, toda a eternidade: nada tem importância.


Nada mais importa, pois não?

Os cinco segundos em que te tive nos meus braços - seriam cinco anos? - não são as minhas memórias, continuam presentes: são o Tempo finito em que me movimento. Permaneço estacada, perplexa, suspensa nesses cinco segundos - seriam cinco anos? -, incapaz de ir embora, de sair daqui, de os apagar de mim, de os ignorar.


Mas já nada importa, pois não? Não, suponho que não. Talvez te tenham bastado apenas... cinco segundos.


© [m.m. botelho], texto e tradução selvagem, ao som de 5 seconds to hold you, dos Devics, extraída do álbum My Beautiful Sinkink Ship [2001].



five seconds to hold you / then you'll slowly vanish from my arms / please don't speak or break this spell / you know it doesn't matter
five fathoms below you / i've waited a lifetime / but as you drift by over me / you know it doesn't matter
five years without you / they couldn't tear a moment from my mind / but memories fade and so did yours / you know it doesn't matter anymore


cinco seguros para te prender / depois tu, lentamente, dissipar-te-ias dos meus braços / por favor, não fales nem quebres este encantamento / sabes que já não importa
cinco braças abaixo de ti / esperei o tempo de uma vida / mas à medida que vagueias sobre mim / sabes que já não importa
cinco anos sem ti / não conseguiriam arrancar um momento da minha cabeça / mas as memórias desvanecem-se e assim sucedeu com as tuas / sabes que já não importa
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