10.1.07

Ser amor em maré cheia

© [m.m. botelho] | fotografia | janeiro de 2007

Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar

a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.


Joaquim Pessoa [n. 1948] | Cem Sonetos Portugueses | selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria | Terramar | 2002



O que é bastante nunca basta. E o que basta nunca é o bastante para nos deixarmos ficar. Como as vagas do mar, ansiamos sempre por beijar a areia, nem que seja só mais uma vez...
Haveremos de ir e voltar. Ir e voltar. Ir e voltar... num nunca acabar de partidas e regressos, em cada um dos dias de toda a nossa vida.

© [m.m. botelho], ao som de Mar Goês, de e por Carlos Paredes, do álbum Canção Para Titi. Os Inéditos 1993 [2000], suspensa em cada uma das inspirações do guitarrista.